Esta pérola do pastelão no cinema mudo, College (1927), traz Buster Keaton encarnando um CDF, "teacher's pet", que decide tirar o nariz de dentro dos livros e se meter a ser atleta.
A motivação para esta modificação de "persona" - semelhante à de um japinha de óculos, gêniozinho da matemática e da lógica, que resolvesse ficar marombadão feito um halterofilista - é a costumeira: uma paixão por uma moça, cuja conquista equivale a uma epopéia.
O estereótipo do cu-de-ferro que come-ninguém e do atleta-desmiolado que papa todas as cheerleaders serve de pano-de-fundo para mais um Tom & Jerry cinematográfico. Keaton, como de costume, é quem mais sofre com os hematomas, os galos-na-cabeça e as juntas deslocadas. Mas, como de praxe, tudo se encaminha para um happy end.
Nem é preciso dizer, para quem já conhece o vasto currículo de trapalhadas e capotes que Mr. Keaton sempre toma em seus filmes, que o tiro sai pela culatra: a metamorfose de CDF em atleta fracassa. Ele é péssimo em tudo quanto é esporte e literalmente "afunda o time" em toda mínima ocasião que encontre. E na maior inocência.
O desengonço do trapalhão é sem fim: lança o disco e acerta o chapéu de um cavalheiro engravatado; pula no barco para a competição de remo e em segundos a bagaça vira e quase naufraga; na corrida com obstáculos, dá trombada em todos eles; e no baseball só faz cagada. Se fosse jogador de futebol, seria aqueles que só chuta falta lá na bandeirinha de escanteio e tropeça na própria bola assim que tenta um arranque.
Mas é esforçado, teimoso, persistente. Não é um olho roxo ou um ossinho quebrado que vai fazer nosso audaz herói maltratado abandonar sua tarefa épica. Tão acostumado a fazer o ridículo e virar alvo de gozação e chacota, ele nem mais se importa com o que os outros pensem: só tem olhos para a amada. A tentativa pra lá de desastrada de impressioná-la é a razão de todas as suas ações e princípio de todas as suas feridas.
Afinal de contas, é difícil não assistir um filme de Keaton sem sentir por ela uma afeição intensa. Não só pela gratidão que sentimos pelas alegrias que ele nos causou com seus certeiros dons humorísticos (e, como diria Spinoza, a alegria é um aumento de nossa potência-de-existir e a isso sempre nos sentimos gratos). Mas também porque encarna um certo ímpeto romântico-heróico-quixotesco típico daqueles que acreditam que a busca pelo amor tudo justifica, e que todo tombo e hematoma conquistado no processo é uma medalha e um troféu.