GREED AND DISGUST
"I feel lethal on the verge of frenzy.
I think my mask of sanity is about to slip."
PATRICK BATEMAN
Enquanto o circo pega fogo nos protestos mundiais contra o Caos Financeiro em que vivemos imersos, nós que vivemos sob sistemas econômicos anarco-capitalistas sempre em eminência de catástrofe, é bom retornar a filmes como American Psycho para entender contra o quê se luta nos Occupies-Wall-Street da vida. Talvez todos nós sejamos obrigados a passar, em nosso tempo de vida, por algo equivalente à Crise de 1929 e à Grande Depressão. Pois o capitalismo parece uma mocinha histérica: entra em crise sistemática e recorrente. Dá tilt e entra em pane com frequência aporrinhante feito uma máquina de pinball velha.
E é bem possível que as próximas crises, conforme o petróleo for escasseando e a biosfera da judiada bolota Terra for entrando em desequilíbrio cada vez mais profundo, incapaz de sustentar os fardos que lhe põe no lombo (e nos ares) os humanos, sejam piores do que aquelas que até hoje conhecemos. Será que seremos tão estúpidos a ponto de cortar todas as árvores, sujar de imundícies todos os rios, lotar a atmosfera de gases tóxicos, nesta desenfreada luta por índices de produção faraônicos, para no fim descobrir... que dinheiro não se come? Dinheiro também não compra um planeta novo. O planeta que fudermos por cegueiras gananciosas e egoísmos econômicos sem-freios não é um planeta substituível.
E é bem possível que as próximas crises, conforme o petróleo for escasseando e a biosfera da judiada bolota Terra for entrando em desequilíbrio cada vez mais profundo, incapaz de sustentar os fardos que lhe põe no lombo (e nos ares) os humanos, sejam piores do que aquelas que até hoje conhecemos. Será que seremos tão estúpidos a ponto de cortar todas as árvores, sujar de imundícies todos os rios, lotar a atmosfera de gases tóxicos, nesta desenfreada luta por índices de produção faraônicos, para no fim descobrir... que dinheiro não se come? Dinheiro também não compra um planeta novo. O planeta que fudermos por cegueiras gananciosas e egoísmos econômicos sem-freios não é um planeta substituível.
Dos romances de Lolita Pille ao Clube da Luta de David Fincher, muitas obras recentes escancaram o que há de obsceno, grotesco e escroto na tal Sociedade de Consumo. Trabalhamos e consumimos, nós os 99%, para que os 1% lá no topo possam ter o maior conforto e luxo imaginável em seu palácio-fortaleza no topo da pirâmide...
Em American Psycho, thriller brilhante de Mary Harron, Patrick Bateman (Christian Bale) vive naquilo que Robert Crumb chamaria de "AmériKKKa". Em outros tempos, ele seria da Klu Klux Klan. Hoje... bem, trabalha em Wall Street e mata mendigos por esporte. Extirpa tudo o que ostente diferença. Quer um mundo "sem impurezas", tal qual o III Reich queria construir com seu sonho eugenista uma "raça ariana superior". Mas nada na "máscara" ou na fachada deste serial killer dá a entender as psicoses que se escondem em seu íntimo: Bateman é diplomado em economia pela prestigiadíssima Harvard Business School, sempre vestindo ternos e gravatas do mais fino linho, todo tratado com cremes para a pele, after-shaves, sessões de ginástica e massagens (cujo preço somado deve dar o equivalente ao PIB da Etiópia ou do Sri Lanka...). É compulsivamente competitivo: comparar cortes-de-cabelo e designs de cartão-de-visitas como se eles fossem as mais cruciais das questões.
Em American Psycho, thriller brilhante de Mary Harron, Patrick Bateman (Christian Bale) vive naquilo que Robert Crumb chamaria de "AmériKKKa". Em outros tempos, ele seria da Klu Klux Klan. Hoje... bem, trabalha em Wall Street e mata mendigos por esporte. Extirpa tudo o que ostente diferença. Quer um mundo "sem impurezas", tal qual o III Reich queria construir com seu sonho eugenista uma "raça ariana superior". Mas nada na "máscara" ou na fachada deste serial killer dá a entender as psicoses que se escondem em seu íntimo: Bateman é diplomado em economia pela prestigiadíssima Harvard Business School, sempre vestindo ternos e gravatas do mais fino linho, todo tratado com cremes para a pele, after-shaves, sessões de ginástica e massagens (cujo preço somado deve dar o equivalente ao PIB da Etiópia ou do Sri Lanka...). É compulsivamente competitivo: comparar cortes-de-cabelo e designs de cartão-de-visitas como se eles fossem as mais cruciais das questões.
Em sua casa, na parede que ele mira todo dia enquanto mija, possui um quadro inspirado em Os Miseráveis, de Victor Hugo. Patrick Bateman mija todos os dias olhando para o rostinho infantil de Cosette, a filha adotiva de Jean Valjean no clássico épico francês de Hugo. Mas Bateman é a completa dissociação entre discurso e ação: fala uma coisa e faz outra. Da boca pra fora, é a favor de acabar com todas as misérias e apartheids que há no mundo, mas obviamente na prática nada faz em prol dessas tarefas que louva. Na prática, a teoria é outra. Toda ação de Bateman é extremamente auto-centrada: egocêntrico ao ponto da demência, considera seu interesse próprio, suas vontades caprichosas, como lei suprema. O mundo deve curvar-se à supremacia dos desejos de Patrick Bateman. A matéria deve curvar-se, cair de joelhos para servi-lo!
Seu apartamento é meticulosamente asseado, higiênico. Ele só gosta de música comercial (grande admirador de Phil Collins....): jamais ousaria expor seus ouvidinhos tão puros a qualquer tipo de lixo independente. Só aquilo que tem os investimentos de uma grande multinacional é algo de "valor reconhecido". "Hip to Be Square", que traduz-se por algo semelhante a "Sou Cool Pois sou Careta", é uma de suas músicas prediletas: ele fala demoradamente sobre Huey & the News enquanto prepara-se para assassinar com uma machadinha. Bateman é um refém cerebral da Matrix chamada Mainstream. Assiste filmes de pornografia enquanto fala com a namorada, todo embirradinho com um desencontro pois considera que sua pica deve reinar sobre o mundo das mulheres com o autoritarismo de um tirano. No restaurante, ele impõe à sua acompanhante-de-saia a escolha do prato: não interessa se a moça queira scargot e coelho, ele irá citar os cadernos gastronômicos dos jornais para exigir dela que se curve e engula um frango quando está com fome de boi.
Está rodeado por pessoas que usam e abusam das "benesses" que a indústria farmacêutica lhes dá: o Xanax, o lithium, o Prozac... Sua turma é de junkies de farmácia. E de farmácias geridas como negócios, que têm por finalidade não a saúde mas o dinheiro, e que adoram "enganchar" novos clientes em vícios deliciosamente lucrativos... Uma cultura saturada por remédios Tarja Preta está a um passo da tragédia: lembremos de Réquiem Para Um Sonho, quando retrata o triste destino de Sarah Goldfarb, a velhinha que vicia na anfetamina ao fazer a dieta que lhe permitirá ser Estrela por um Dia na TV. Uma das mais brilhantes "sacadas" de Aronofsky naquele clássico noventista foi escancarar o potencial alucinatório do Tele-Tubo. Seguiu, nesta senda, ao Cronenberg de Videodrome e ao Thomas Pynchon de Vineland. Nas baladas tecno de luxo que frequentam os ricaços de American Psycho, com banheirões repletos de carreiras de pó, disponível para todas as narinas, enchem o côco de cocaína e saem trocando impropérios - se xingam, se esganam, se estapeam, às vezes se matam...
Uma das razões que fez de O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight), do Christopher Nolan, um dos melhores filmes deste nosso jovem século, foi a encarnação de Bruce Wayne por Christian Bale: com as lições preciosas que ele aprendeu em American Psycho, soube emprestar ao ricaço dono do Corporação Wayne, um dos homens mais cheios da bufunfa em Gotham City, uma certa psicopatologia, uma certa psicose: há mais laços unindo o Coringa e o Batman do que sonha nossa vã filosofia maniqueísta! Nolan soube explodir em mil pedaços qualquer divisão simplista e binária entre Vilão e Mocinho, complexificou a questão de modo a fazer emergirem questões sociológicas, políticas e jurídicass, sem sacrificar o vigor impressionante de sua narrativa. De certo modo, o Batman é outra espécie de American Psycho, muito aparentado ao próprio Joker de Heath Ledger, um personagem destinado a talvez se tornar tão cult quanto o próprio Homem-Morcego.
Bateman é uma espécie de Raskolnikov da era do Capitalismo Financeiro, retirando de sua arrogante pressuposição de Superioridade que mesmo o assassinato-em-série é justificado. O protagonista de Crime e Castigo, de Dostoiévski, é muito mais simpático, capaz de despertar nossa empatia, pois é um estudante com amplas ambições artísticas e que sofre da mais profunda pobreza em Moscou. Além disso, na segunda parte do romance, passa por um infindos martírios de remorso e consciência de culpa, não conseguindo conviver com seu ato, tornando-se cada vez mais paranóico enquanto as forças policiais fecham o cerco e a Sibéria se aproxima... Já Bateman não tem o álibi da pobreza: seus crimes não são emanados da miséria. Da própria opulência desenfreada brotam estas flores malditas.Um espancador de prostitutas, um assassino de mendigos, um "homem de finanças" que adora lidar com a rivalidade na base da extinção do partido oposto com a força bruta da violência.